terça-feira, 6 de maio de 2014

A Paixão de Claudia



"O ato público e cultural “A Paixão de Claudia”, articulado pela empresa Cubo Preto Ensino de Arte e Cultura Ltda., juntamente com ONGs, associações, coletivos culturais, empresas, órgãos da imprensa formal e informal e por profissionais de várias áreas das artes e interessados na vida em sociedade de modo geral, constitui-se como uma homenagem à mulher negra, trabalhadora e mãe brasileira, Claudia da Silva Ferreira, de 38 anos, que no dia 16 de março de 2014, foi atingida por uma bala perdida dispara por agentes da Polícia Militar do Rio de Janeiro, socorrida pela mesma ainda em vida e arrastada por cerca de 350 metros, chegando ao hospital morta e com partes de seu corpo em carne viva.
Mãe de quatro filhos biológicos e educadora de quatro sobrinhos, entendemos que o que houve configura-se como uma tragédia horrenda e, diante do silêncio com o qual a imprensa e a sociedade civil recebeu e reagiu diante desta barbaridade ocorrida com uma mulher negra que, como muitas outras alicerça o país por meio de sua força de trabalho, decidimos que era este o momento de prestar uma homenagem às muitas mães pretas que criam, educam, trabalham para a criação e educação dos filhos negros e brancos deste Brasil. Negros quando biólogos, brancos quando filhos de seus empregadores. Isso desde o século XVI. Não é aceitável tamanha anestesia diante de uma vida perdida de maneira violenta e cruel e de uma família negra destruída. E se fosse uma mulher de família branca e de classe media? Haveria maior comoção social? Acreditamos veemente que sim. Uma vida não vale mais do que outra, nós brasileiros precisamos compreender.
Desse modo, escolheu-se a data de 18 de abril por ser feriado, ou seja, não serão causados danos ao transporte da cidade e ao direito de ir e vir dos cidadãos paulistanos. Para além disso, a data relembra a Paixão de Cristo, assassinado em nome da liberdade da humanidade, levando com sua vida os pecados dos homens. Compreendemos que essa Claudia, e muitas outras Claudias, levam em seus corpos e em suas vidas cotidianas as chagas de uma sociedade desigual, que não as confere o devido valor enquanto força motriz da nação em eterno desenvolvimento e enquanto mulheres que são, seres humanos com sonhos, desejos, necessidades, direitos e deveres."

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